SONS de ABRIL
O dia 25 de abril é um marco na nossa história e cultura que urge preservar. Sabemos que esta efeméride se tem desvanecido na memória coletiva. Assim, no sentido de a preservar e enaltecer, a biblioteca escolar levou a cabo uma iniciativa, no passado dia 24 de abril, que denominou de “Sons de abril".
A atividade iniciou-se com uma pequena introdução ao tema, pelo nosso coordenador, professor João Alves dos Reis.
De seguida, os alunos do Clube de Música recordaram canções de intervenção, cantando e tocando o tema "E depois do adeus", com letra de José Niza e música de José Calvário, originalmente interpretado por Paulo de Carvalho. Esta canção, como todos sabemos, foi uma das músicas senha, que dava ordem às tropas para se prepararem, nos quartéis, para a revolução.
De seguida, uma aluna declamou o seguinte poema:
Portugal Ressuscitado
José Carlos Ary dos Santos
Depois da fome, da guerra
da prisão e da tortura
vi abrir-se a minha terra
como um cravo de ternura.
Vi nas ruas da cidade
o coração do meu povo
gaivota da liberdade
voando num Tejo novo.
Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido
Vi nas bocas vi nos olhos
nos braços nas mãos acesas
cravos vermelhos aos molhos
rosas livres portuguesas.
Vi as portas da prisão
abertas de par em par
vi passar a procissão
do meu país a cantar.
Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido
Nunca mais nos curvaremos
às armas da repressão
somos a força que temos
a pulsar no coração.
Enquanto nos mantivermos
todos juntos lado a lado
somos a glória de sermos
Portugal ressuscitado.
Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido.
A história do 25 de abril está um pouco desvanecida na memória coletiva e não quisemos deixar de relembrar aquela que foi uma revolução exemplar e admirada pelo mundo. Assim, os alunos presentes na biblioteca, que estava cheia, visualizaram um pequeno filme explicativo da revolução de abril.
Seguidamente, outra aluna declamou o poema:
O Dia da Liberdade
José Jorge Letria
Este dia é um canteiro
com flores todo o ano
e veleiros lá ao largo
navegando a todo o pano.
E assim se lembra outro dia febril
que em tempos mudou a história
numa madrugada de Abril,
quando os meninos de hoje
ainda não tinham nascido
e a nossa liberdade
era um fruto prometido,
tantas vezes proibido,
que tinha o sabor secreto
da esperança e do afeto
e dos amigos todos juntos
debaixo do mesmo teto.
Há um poema que marca a gerações desde há muito e um
aluno fez questão de o recordar:
Pedra Filosofal
António Gedeão
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
E, claro, nenhuma celebração alusiva ao 25 de abril pode existir sem a canção senha "Grândola Vila Morena" de Zeca Afonso, que o nosso Clube de música interpretou magnificamente.
Viva o 25 de abril! Viva a liberdade!